sexta-feira, 24 de junho de 2011

Amor - O profeta de Kahlil Gibran

Publicada pela primeira vez em 1923, reeditado constantemente em todo o mundo. O profeta é uma das obras mais bem-amadas da Literatura Universal. Livro profundo e intemporal, a sua linguagem permeada de uma beleza poética profunda, mas ao mesmo tempo de uma simplicidade encantadora. Pela voz do profeta Almustafá, são evocados os mais profundos desejos da mente e da alma humana. Leva-nos ao encontro da nossa paisagem interior.
 Dentro dos vários temas que constitui a obra, decidi colocar aqui o tema: Amor.



Depois disse Almitra:
“Fala-nos do Amor.”
Ele levantou a cabeça, contemplou o povo, e sentiu a calma instalar-se sobre todos. E Almustafá, com uma voz grandiosa declarou:
“Quando o amor vos acenar, sigam-no, ainda que os seus caminhos sejam difíceis e íngremes.
E quando as suas asas vos envolverem, abraçai-o, ainda que a espada escondida no meio da penugem vos possa ferir.
E quando ele falar convosco, acreditai nele, ainda que a sua voz possa destroçar os vossos sonhos, tal como o vento do norte devasta um jardim.

Pois mesmo quando o amor vos coroa, crucifica-vos e quando vos faz crescer, tolhe-vos.
Quando o amor se revela à vossa altura e acaricia os ramos mais frágeis que vacilam ao sol, também se baixa até às vossas raízes, abanando-as quando se agarram à terra.
Quais feixes de milho, o amor junta-vos a ele.
Abana-vos para vos despir.
Peneira-vos até à brancura.
Amassa-vos até que fiqueis moles.

E acolhe-vos para o seu fogo sagrado, de molde a que vos torneis pão sagrado no banquete sagrado de Deus.
Tudo o que o amor faz por vós serve para conhecerdes os segredos do vosso coração, e para que na posse desse conhecimento vos torneis um fragmento do coração da Vida.

Mas se, apesar de terdes medo, procurais apenas a paz e o prazer do amor, mais indicado é, para vós, que cubrais a vossa nudez e abandoneis a eira do amor.
E entreis num mundo sem estações onde rireis, sem esgotar todo o vosso riso, e chorareis, sem esgotar todas as vossas lágrimas.

O amor não dá mais do que a si próprio e não retira nada que não seja a si mesmo.
O amor não possiu nem pode ser possuído, pois o amor é suficiente por si só.

Quando amardes, não deveis dizer: “Deus está no meu coração”, mas antes “Eu estou no coração de Deus”.
E não penseis que podeis dirigir o curso do amor, pois o amor, se vos achar merecedores, dirigirá o vosso curso.

O amor não tem qualquer outro desejo senão o de acontecer.

Mas se ameis e tiverdes desejos, deixai que estes sejam os vossos desejos:

- Derreter e ser como um riacho que corre e canta a sua melodia à noite.
- Conhecer a dor da ternura excessiva.
- Sofrer pela nossa própria concepção de amor.
- Sangrar com vontade e alegria.
- Acordar com a alvorada e com o coração a levitar, dando graças por mais um dia de amor.
- Repousar ao meio-dia e meditar sobre o êxtase do amor.

E depois adormecer com uma oração pelo nosso amado e uma canção de louvor nos lábios.


In: O Profeta, Kahlil Gibran, p. 15-17

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