Ser louco é isso mesmo, um
desalinho da linha que toda a gente nos ensina a seguir religiosamente, sem
falhar. Aprendemos desde cedo que as regras são para cumprir sem questionar,
mas esquecemos que essas regras muitas vezes foram criadas por pessoas que
entendem muito pouco da vida e que possivelmente entendem menos de regras do
que nós.
Andar desalinhado ou sentir-se à
margem do mundo actual infelizmente faz parte de uma grande maioria.
Infelizmente porque é muito difícil viver deste modo, pois afasta as pessoas do
dito “normal”, “aceitável” ou “previsto”. Ao longo dos tempos o humano foi
sendo limitado socialmente pelas instituições que através de uma lavagem de
mentes controlam as opiniões, as modas, os modos, os pensamentos, etc. A igreja
desempenhou muito bem esse papel durante séculos, crucificando, queimando,
limpando, todos aqueles que ousaram usar o seu pensamento crítico. O humano foi
domesticado através do medo: do pecado, do julgamento final, do que há-de vir,
mas nunca virá. Com o desenvolvimento económico a máquina controladora passou a
ser o poder económico dos países industrializados. Agora criam-se doenças em
laboratório, inventam-se motivos para começar uma guerra, colam-se rótulos de
“crónico” a perturbações do foro psicológico para as quais existe tratamento,
mas que os lóbis querem que sejam encaradas como doenças fatais e para toda a
vida. Estou certa que do mesmo modo que agora achamos escandaloso a “lobotomia”
como tratamento para uma doença do foro psicológico (passado meio século),
daqui a algumas décadas vamos saber que é escandaloso o tratamento que se tem
dado a pessoas perfeitamente equilibradas, mas que acabam num hospital
psiquiátrico completamente domesticáveis e animalizadas com o olhar perdido no
horizonte e sem expressão emocional.
Num mundo assim é melhor NÃO SER!
Não ser alinhado na norma, não
adorar a igreja, mas sim o universo e a natureza, não subestimar a inteligência
de quem sabe pensar. Não crer em tudo o que advém do catolicismo apostólico
romano como uma lei, que condena a protecção contra doenças sexualmente
transmissíveis, que reduz a relação sexual ao acto de procriar, de julgar a
diferença de muitos, sem causa aparente.
Vivemos uma condição política de
vazio, tal qual um horizonte sem sentido, a Europa actual está solidificada nos
escombros de um conjunto de países que brincam à moeda única e fingem ter
raízes nacionalistas e cultura própria. O caso adquire contornos mais graves
quando falamos especificamente de Portugal: país do saudosismo, que cada vez
mais se afasta da missão genuinamente nacional da descoberta de um caminho
espiritual e do “modo de ser português”.
Cristina Gonçalves D' Camões (2013)
Cristina Gonçalves D' Camões (2013)