quinta-feira, 25 de julho de 2013

O Bailado


"Ser poeta, eis aí o meu destino, desde aquela tarde remota, a esvair-se entre fantasmas de pinheiros...
Alguns ainda existe, doirados ainda, como eu, dos últimos clarões desse crepúsculo, e mais poetas do que eu...
Só os mochos sabem recitar, em voz alta, aquela profunda e íntima elegia que eles murmuram no silêncio da noite e é o próprio silêncio elevado à afinação musical de melancolia, da sombra e do luar...
E existe ainda a velha árvore junto da qual recebi a bênção das Musas...
Uma névoa triste que se meteu em mim, uma visão que me turva os olhos espantados, uma ternura dolorida que me embrandece e dilui nas cousas que me cercam, um ímpeto fugitivo para as alturas, uma sensibilidade que vibra ao menor contacto..."


In: O Bailado, Teixeira de Pascoaes

terça-feira, 9 de julho de 2013

Ingenuidade ∞










Impossível silenciar esta sinfonia
Que criaste só para mim
Naquele banco do jardim
Quem sabe a utopia
Que quisera escrever
Nestas linhas sem rumo
Sem alcance
Sem tinta…sem cor
Do silêncio espero
Do silêncio anseio
Porque quero
Porque vivo em ti
Porque no suspiro
Dos segredos
Silenciados…eu sei!
Num murmúrio d’encanto
Num desatino sem norte
Numa vida d’espasmos
Na noite que quisera
Silenciar o impossível
Percorrer o nirvana
Numa ingénua ideia
D’alcançar o Tibete
Pois é no silêncio
Que tudo acontece!
Pois é no silêncio…
Que se nasce
E se morre
Pois é no silêncio
Que nos encontramos...
No infinito

Cristina Gonçalves D' Camões