O Bailado
"Ser poeta, eis aí o meu destino, desde aquela
tarde remota, a esvair-se entre fantasmas de pinheiros...
Alguns ainda existe, doirados ainda, como eu, dos últimos
clarões desse crepúsculo, e mais poetas do que eu...
Só os mochos sabem recitar, em voz alta, aquela
profunda e íntima elegia que eles murmuram no silêncio da noite e é o próprio
silêncio elevado à afinação musical de melancolia, da sombra e do luar...
E existe ainda a velha árvore junto da qual recebi a bênção
das Musas...
Uma névoa triste que se meteu em mim, uma visão que me
turva os olhos espantados, uma ternura dolorida que me embrandece e dilui nas
cousas que me cercam, um ímpeto fugitivo para as alturas, uma sensibilidade que
vibra ao menor contacto..."
In: O Bailado,
Teixeira de Pascoaes
Sem comentários:
Enviar um comentário