quinta-feira, 25 de julho de 2013

O Bailado


"Ser poeta, eis aí o meu destino, desde aquela tarde remota, a esvair-se entre fantasmas de pinheiros...
Alguns ainda existe, doirados ainda, como eu, dos últimos clarões desse crepúsculo, e mais poetas do que eu...
Só os mochos sabem recitar, em voz alta, aquela profunda e íntima elegia que eles murmuram no silêncio da noite e é o próprio silêncio elevado à afinação musical de melancolia, da sombra e do luar...
E existe ainda a velha árvore junto da qual recebi a bênção das Musas...
Uma névoa triste que se meteu em mim, uma visão que me turva os olhos espantados, uma ternura dolorida que me embrandece e dilui nas cousas que me cercam, um ímpeto fugitivo para as alturas, uma sensibilidade que vibra ao menor contacto..."


In: O Bailado, Teixeira de Pascoaes

Sem comentários: