domingo, 16 de setembro de 2012

O POVO

Escrevia Guerra Junqueiro
que este povo é
Imbecilizado, resignado,
humilde e macambúzio- 1896(...)

Pobre Povo:
Quer justiça, mas resignado...
Em nome da equidade
Os malandros do centralismo
Mandam sem parar
Burros de gabinete;
Pobres de espírito.
Indulgente nação,
Que mostra o silencio
Dos filhos dos lóbis,
Que comem,
Medram,
Crescem.
...Vão e vêem...
Sem razão
Criam cargos inúteis!
E engordam
Os cordões das bolsas.
Um povo apagado,
Uma justiça injusta
Cheia de lacunas.
Dão-lhe o fado...
E calam todas as bocas
Melancólica nação
Perante os comedores
Dos acordos ortográficos
D’uma vassalagem
Àqueles que usam a nossa língua
E mandam cá dentro.
Querem eles saber d’alguma coisa?
E no fim das contas:
Contemplam os paraísos
Filosófico-fiscais!
Cá nós...só nos resta:
PAGAR?

Cristina Gonçalves D' Camões (2012)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

TRÁGICA RECORDAÇÃO

Meu Deus, meu Deus! Quando me lembro agora
De o ver andar no mundo, de repente,Seu vulto me aparece, transcendente,
Mas tão perfeito e vivo como outrora!
Julgo que ele ainda existe, e que, lá fora,
Fala em voz alta e brinca alegremente,
E volve os olhos verdes para a gente,
Dois berços de embalar e luz aurora!
Julgo que ele ainda vive, mas já perto
Daquele tenebroso abismo aberto
Que avistamos no instante derradeiro!
Ó visão da criança, ao pé da morte!
E a da mãe, tendo, ao lado, a negra sorte
A calcular-lhe o golpe traiçoeiro!

In: “Elegias – Trágica Recordação”, Teixeira de Pascoaes, p. 239

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Mais Triste do que Estar Triste



Mais triste do que estar triste
É sentir que não se sente
Estar num marasmo

Mais triste do que estar triste
É a miséria de não querer
Assumir o que se sente

Mais triste do que estar triste
É a ignorância de si mesmo
Numa ilusão constante

Mais triste do que estar triste
É ser moribundo duma sociedade
Escondida nos dogmas

Eu cá:

Prefiro Mil vezes estar Triste
Prefiro Mil vezes Viver
Prefiro Mil vezes Milhões Sentir

e não me arrepender de ser fiel a mim mesma!

Cristina Gonçalves D' Camões (2012)