segunda-feira, 10 de setembro de 2012

TRÁGICA RECORDAÇÃO

Meu Deus, meu Deus! Quando me lembro agora
De o ver andar no mundo, de repente,Seu vulto me aparece, transcendente,
Mas tão perfeito e vivo como outrora!
Julgo que ele ainda existe, e que, lá fora,
Fala em voz alta e brinca alegremente,
E volve os olhos verdes para a gente,
Dois berços de embalar e luz aurora!
Julgo que ele ainda vive, mas já perto
Daquele tenebroso abismo aberto
Que avistamos no instante derradeiro!
Ó visão da criança, ao pé da morte!
E a da mãe, tendo, ao lado, a negra sorte
A calcular-lhe o golpe traiçoeiro!

In: “Elegias – Trágica Recordação”, Teixeira de Pascoaes, p. 239

Sem comentários: