segunda-feira, 4 de julho de 2011

Antero de Quental "Inconsciente"

O espectro familiar que anda comigo,
Sem que pudesse ainda ver-lhe o rosto,
Que umas vezes encaro com desgosto
E outras muitas ansioso espreito e sigo,

É um espectro mudo, grave, antigo,
Que parece a conversas mal disposto…
Ante esse vulto, ascético e composto
Mil vezes abro a boca… e nada digo.

Só uma vez ousei interroga-lo:
Quem és (lhe perguntei com grande abalo)
Fantasma a quem odeio e quem amo?

Teus irmãos (respondeu) os vãos humanos,
Chamam-me Deus, há mais de dez mil anos…
Mas eu por mim não sei como me chamo…

Antero de Quental – Sonetos Completos, p. 143

2 comentários:

Lourenço disse...

Um soneto perfeito do meu Poeta preferido! É sempre retemperador e irresistivelmente belo! Cumprimentos literários.

Cristina Gonçalves D' Camões disse...

Verdade, os sonetos dos grandes são sempre belos e perfeitos.

Saudações literárias.