segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Teixeira de Pascoaes

Pascoaes foi e será para sempre uma mente prodigiosamente fecunda, pela sua imensa atividade intelectual e pela exclusividade de pensamento. Para mim talvez o maior poeta-filósofo contemporâneo do Pensamento Português.

Sobre a sua alma grandiosa residiu um espírito ondulante de conteúdo, único e de inteligência subtil, que encarnou num só homem todas as possibilidades do conhecimento humano. Tal como um vulcão, incendiou completamente os modos de pensar, sentir e agir do final do séc. XIX e princípios do séc. XX. A
nossa alma portuguesa fez-se carne nas suas obras, não só pela sua essência saudosa, mas também pelo orgulho que encerra este sentimento único de lusitanidade.

Tal como afirmou Eduardo Lourenço em Pascoaes os contrários não se opõem e a contradição não exige múltiplos eus para suportar inconciliáveis visões do universo, tudo é só uma realidade, misteriosamente a mesma e o seu contrário.



“Desejei falar de mim, neste livro. Falei dos outros, afinal. Mas quem somos nós senão os outros? Um homem é todas as cousas que ele viu e todas as pessoas que passaram por ele, nesta vida. (…)

Alegro-me de ser. Ao menos, vi as estrelas, o mar, o Marão, o pôr do sol, entre, os pinhais, a Lua pousada, por instantes, num cerro montanhês, a primavera e o teu pequeno vulto, meu Anjinho!

Alegro-me de ser, porque amo e sofro; espero e desespero, choro e rio; cantando, elevo-me às estrelas e há silêncios que se abrem em mim, tão profundos como a noite!

(…) Sim, há horas em que a vida nos esmaga e esfarrapa! Somos como um papel escrito nas mãos insatisfeitas dum poeta, esse animal raivoso. Voamos aos quatro ventos! (…)

O homem nasce e morre várias vezes, desde que sai do berço até que entra no seu túmulo. Viver é nascer a toda a hora.

O homem não vive: nasce e morre.

Viver vivem as árvores… e algumas criaturas que conheço, perfeitamente vegetais. (…) E vive a donzela, que é uma flor…

O homem nasce e morre. É um vagido e um último suspiro. A palavra foi dada às palavras e às árvores e às do donzelas… Percebe leitor? Desculpará… Pedir desculpa é a própria base do edifício social. O leitor, se é comproprietário desse belo edifício, ficará a simpatizar comigo e será capaz de me ler até ao fim! Ainda bem!”



In: O Bailado, Teixeira de Pascoaes

Sem comentários: